O papel da oscilação beta na viagem mental no tempo

Uma característica da experiência consciente humana é a capacidade de se projetar mentalmente para um novo local de tempo, seja no passado ou no futuro, ou seja, a chamada Viagem Mental no Tempo (MTT). O objetivo do presente projeto é estudar as bases neurais do MTT.

Foi proposto que a autoprojeção no tempo é semelhante à autoprojeção no espaço, enfatizando o papel da navegação espacial no MTT. De fato, o córtex parietal posterior, uma região-chave para imagens visuais em tarefas relacionadas ao espaço, e a junção temporo-parietal, uma região-chave para a projeção mental, são ambos recrutados pela autoprojeção no tempo e no espaço. No entanto, a computação neural específica dos dois processos permanece incerta. Uma maneira de resolver isso é investigar as oscilações cerebrais que podem modular o MTT. Um candidato plausível para o processamento MTT são as oscilações beta por causa de seu papel na produção e percepção de intervalos temporais curtos, em oposição às oscilações alfa que se correlacionam com mudanças ilusórias na autolocalização no espaço. Assim, levantamos a hipótese de que o MTT pode depender das oscilações beta do córtex parietal posterior para se autoprojetar no tempo. Além disso, como estudos anteriores mostraram um desempenho diferente no processamento do tempo entre a população de saúde jovem e idosa, queremos investigar também se há diferenças entre essas duas populações no MTT.

Para avaliar o MTT desenvolvemos uma nova tarefa na qual os participantes veem rostos estímulos de diferentes idades, um de cada vez. Cada rosto é apresentado com uma frase curta que descreve um evento de vida particular, geralmente acontecendo na meia-idade. Os participantes realizam uma escolha forçada de 2 alternativas: na 'Projeção do Passado', eles indicam se é provável ou improvável que a pessoa do estímulo tenha vivido o evento de vida há 10 anos; na 'Projeção futura' que a pessoa estímulo viverá o evento 10 anos no futuro. Usamos a estimulação transcraniana por corrente alternada (tACS) para testar nos sujeitos o papel do alvo (Beta) e as oscilações de controle (Alfa), além de uma condição de não estimulação de controle (Sham). Para descartar que o tACS pode simplesmente afetar a percepção da idade, os participantes também são solicitados a relatar a idade de cada rosto de estímulo (tarefa de estimativa de idade). Além disso, para investigar se existe alguma correlação entre o MTT e a percepção de intervalo temporal curto, os participantes realizam uma tarefa de reprodução do tempo antes da estimulação cerebral e a tarefa do MTT. Na tarefa de reprodução do tempo, é apresentado um quadrado azul com duração variável (fase de codificação). Imediatamente após a fase de codificação, um quadrado vermelho do mesmo tamanho e posição é apresentado. Os sujeitos pressionam um botão de resposta quando consideram que o mesmo do intervalo de tempo previamente estudado já passou.

Um estudo piloto com 11 participantes mostra que o beta-tACS corresponde a uma mudança na curva psicométrica para uma idade mais jovem na 'condição passada' e para uma idade mais avançada na 'condição futura'. Assim, os participantes indicaram uma face mais jovem como mais propensa a ter vivido um evento 10 anos atrás e uma face mais velha como mais propensa a viver um evento 10 anos no futuro. Isso sugere que o beta-tACS leva a uma subestimação do tempo em relação ao sham e ao alfa-tACS. Crucialmente, não houve diferenças significativas na estimativa das idades verídicas das faces do estímulo. Assim, a oscilação beta pode modular a autoprojeção no tempo, uma vez que esses dados são consistentes com uma subestimação do tempo.

Se confirmados, os resultados nos permitirão especificar que a autoprojeção no tempo depende das regiões parietais posteriores e das oscilações beta. Além disso, se apoiado por nossos experimentos futuros envolvendo processamento espacial, esse resultado também pode lançar uma nova luz sobre a distinção entre autoprojeção no espaço, que é conhecida por depender de alfa, e autoprojeção no tempo, que depende de beta. No geral, esses dados podem apontar para o fato de que as oscilações beta são críticas para o processamento de longas durações, além de seu papel bem conhecido no suporte a curtas durações. Isso pode ocorrer porque a oscilação beta pode servir como um padrão de memória com o qual diferentes durações são comparadas.